Vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura, Uma tristeza infinita aborda dois temas dos quais gosto muito: medicina e saúde mental. O enredo é construído a partir da mudança de vida feita por Nicolas, um psiquiatra francês, e sua companheira, Anna. Os dois aceitam um convite para se mudarem para um pequeno vilarejo suíço, onde fica localizado o novo local de trabalho do protagonista: um hospital psiquiátrico.
Além de ser um cenário diferente, Xerxenesky escolhe um período atribulado da Europa: o período pós 2ª Guerra, em que nações tentam se reerguer e o clima de destruição, perdas, traumas e culpa adoeciam a população. Muitos dos pacientes atendidos nesse pequeno vilarejo são vítimas dessa guerra.
É justamente nessa época que se desenvolvem as primeiras drogas contra doenças como a depressão. Até aquele momento, o tratamento de choque era uma opção comum nos hospitais psiquiátricos, Nicolas dedica-se à busca por um tratamento humanizado, em que a conversa com o paciente contribui para a melhora.
Achei interessante como o autor traz temas relacionados à psiquiatria e saúde mental, ao mesmo tempo em que constrói uma atmosfera de melancolia (m personagem importante com o decorrer da narrativa) envolvendo o protagonista e o novo cenário em que vive. A partir da leitura é possível perceber a extensa pesquisa feita pelo autor sobre os assuntos.
Por outro lado, a narrativa em si não me agradou tanto quanto os temas abordados. Senti falta de um desenvolvimento maior dos personagens principais, que em alguns momentos pareciam estar deslocados daquele cenário e época escolhidos por Xerxenesky. Ainda assim, não há como negar a coragem do autor brasileiro de escrever sobre uma atmosfera tão distante do nosso Brasil.
A escrita é gostosa e fluida e, por conta da temática que tanto me interessa, li em poucos dias. Ansioso pelas próximas obras que um autor contemporâneo nacional com tanto talento ainda tem parar nos oferecer.