Sabe aquela leitura que você mal começa e já quer sair indicando? Então, com “Um defeito de cor” foi bem assim. Levei mais de 2 meses para ler as quase mil páginas e fiquei esse tempo todo ansioso para poder fazer essa resenha para vocês e recomendar a leitura!
O livro é uma verdadeira aula sobre a formação da sociedade brasileira e sua estreita relação com o triste processo de escravidão que marcou o nosso país. Acompanhamos a história de Kehinde, uma garota nascida no começo do século XIX em Savalu (atual Benin). Depois de vivenciar tragédias em sua família, acaba sendo capturada e transportada para o Brasil, uma terra totalmente desconhecida, com o objetivo de ser vendida para algum senhor de engenho. E a autora detalha todo esse traumático episódio, narrando as condições desumanas que os futuros escravizados sofriam nas embarcações e na chegada ao país.
No Brasil, Kehinde será batizada e receberá o nome de Luisa, já que os colonizadores simplesmente ignoravam a cultura e tradições dos povos capturados no continente africano. Kehinde, no entanto, se recusa – da forma que pode – a esquecer seu passado. São muitas as dificuldades vividas por uma criança sozinha em um país desconhecido. A narrativa faz um mergulho tão profundo na vida de Kehinde que fica impossível a tarefa de contar sobre a sua trajetória em uma resenha.
Por isso, o importante é compartilhar o que aprendi. Aprendi sobre a origem de diversos elementos que compõem a cultura brasileira. Entendi o lento processo que culminou na abolição da escravidão no país, ao mesmo tempo que me revoltei muito pelo sofrimento a que os escravizados eram submetidos. Há passagens que demandam uma pausa, tamanha a crueldade do colonizador.
Também é muito interessante a construção da personagem principal. Ana Maria não pretende criar uma heroína, mas sim uma mulher real, que luta para sobreviver e proteger quem ama, mas que não deixa de apresentar defeitos e tomar atitudes com base apenas na emoção.
Esse é um livro que merece ser lido por todos. Não sei como ainda não foi traduzido para outros idiomas, já que é um retrato riquíssimo da história do nosso país.