Quando me perguntam quais os meus autores nacionais favoritos, Lygia Fagundes Telles com certeza está no topo da lista. Apesar de ter escrito uma extensa variedade de contos, até esse ano eu só havia lido seus romances. E não porque são mais bem recomendados, mas talvez porque não sou uma pessoa tão fã desse gênero literário (acho que prefiro histórias mais longas, em que tenho tempo para me apegar aos personagens e à narrativa).
Apesar disso, de tempos em tempos eu me esforço para ler alguma coletânea de contos e Seminário dos ratos já estava na minha lista faz tempo. Que leitura!! Em grande parte dos contos, Lygia conseguiu me envolver na narrativa de uma forma que muitos romances nunca conseguiram. O seu dom de escrever sobre o ser humano, seus sentimentos e seu comportamento ficam muito evidentes nessa coletânea, assim como a sua capacidade de tratar de temas que estavam muito a frente do seu tempo (o livro foi publicado em 1977).
E é muito interessante perceber como os enredos contidos nas páginas de Seminário dos ratos são distintos entre si, sendo que a autora se vale muito da fantasia para transportar o leitor para outras realidades e do fluxo de consciência para permitir uma imersão maior no interior dos personagens. Temos, por exemplo, uma situação de mistério em que coisas começam a desaparecer de um quarto, e apenas formigas são vistas lá; a história de uma mulher que mantém uma tigresa em seu apartamento; e uma cidade que é invadida por ratos que passam a devorar tudo que veem pela frente.
É uma verdadeira viagem para a essência dos personagens nos mais diversos – e criativos – ambientes. Dentre os treze contos que compõem a coletânea, posso dizer que os meus favoritos foram “As formigas”, “Tigrela” e “Seminário dos ratos”.