A obra reúne pequenos contos, em sua maioria autobiográficos, e todos com um ponto em comum: o cenário! Apesar de histórias diferentes, todas se passam em uma Havana caótica, suja e pobre. Uma Havana assolada pela crise econômica enfrentada por Cuba na década de 90. É a rotina de cidadãos rodeados pelo sexo, pelo álcool, pelas drogas e pela falta de oportunidades. Estão fadados a essa vida e, por isso, se preocupam em garantir o dinheiro para conseguir comer, beber e sobreviver. E em uma sociedade tão pobre e cerceadora de liberdade, o corpo é uma das poucas coisas que ainda sobrou para o indivíduo usar e abusar. E é isso que vemos na obra: a presença intensa do sexo. Mas não se trata de uma obra erótica, é a vulgaridade e o lado animal do ser humano que representam um pausa da miséria de todos os dias. Sem medir as palavras que usa, o autor conta boas histórias e ainda consegue tecer uma crítica social, expondo a realidade que viveu.
Apesar de se valer de uma escrita econômica e direta, o autor tem a enorme capacidade de transportar o leitor para aquele ambiente caótico, descrevendo sensações, cheiros e sabores. A primeira obra que li de Gutiérrez foi em 2017 e me surpreendeu muito – O rei de Havana. As duas obras trazem as características do autor e acho que fiz certo ao não começar por essa obra. Por serem muitos os relatos, e alguns com temática e ritmo parecidos, a leitura pode causar certo cansaço no leitor que se depara com o estilo de Gutiérrez pela primeira vez. Independentemente de qual livro escolher, não deixem de conhecer esse autor cubano. “Trilogia suja de Havana” é uma obra visceral e que recomendo muito! .
“Sexo é um intercâmbio de líquidos, de fluidos, de saliva, hálito e cheiros fortes, urina, sêmen, merda, suor, micróbios, bactérias. Ou não é. Se é só ternura e espiritualidade etérea, se reduz a uma paródia estéril do que poderia ser. Nada”