Não é fácil fazer uma resenha de Lolita. Para falar sobre o livro, precisamos passar por um assunto muito polêmico: pedofilia. Nabokov narra a história de Humbert Humbert (H.H.), um homem de meia-idade, que se apaixona obcecadamente por uma garota de 12 anos, Dolores – apelidada de Lolita. Na verdade, quem narra a história é o próprio Humbert, que mergulha o leitor em seus pensamentos e em sua obsessão incontrolável por garotas jovens, que ele denomina como “ninfetas”.
E em nenhum momento H.H. nega que seu comportamento é reprovável. Há, na verdade, diversas passagens em que ele reconhece isso expressamente e se culpa por seus atos. Mas isso não é capaz de frear esse seu desejo interior. E é a partir dessa relação doentia, e não romântica, que Nabokov mostra o seu dom da escrita e a capacidade de construir personagens muito humanos.
O que mais me impressionou na obra é a forma como o narrador consegue manipular o leitor. Ele brinca com constantemente com a realidade, ao ponto de o leitor não saber o que é real ou o que é fruto de uma visão distorcida de Humbert. Será que a própria Lolita provocava H.H., como ele dá a entender? Eu passei a questionar os fatos a todo momento, pois, na verdade, não chegamos a conhecer a verdadeira Dolores, mas apenas a Lolita, na forma como é descrita por Humbert.
Importante dizer que a obra não traz passagens obscenas ou pornográficas. A relação entre H.H. e Lolita é narrada de forma sutil, com pinceladas de vulgaridade – e que ainda assim deixam dúvidas no leitor sobre o que de fato H.H. quer dizer com aquilo.
Além disso, apesar de uma visão totalmente parcial, H.H. se apresenta como honesto: escancara os seus sentimentos e seus conflitos internos. Ele sofre pelo que sente e isso pode gerar, em certos momentos, um sentimento de “compaixão” por Humbert, mas que logo passa.
É um obra sensacional e que, apesar de incomodar o leitor, não traz uma história romantizada da pedofilia, mas a visão manipuladora de um homem atormentado pela obsessão. Foi para a lista de favoritos!
Trecho: “Lolita, luz da minha vida, fogo da minha carne. Minha, alma, meu pecado (…)”
Terminei de ler Lolita esse final de semana e ainda estou digerindo a leitura. Um verdadeiro soco no estômago.
Não consegui perceber culpa em H.H, mas uma tentativa de enredar o leitor para que pense ser menos reprovável seu comportamento, sendo a narrativa construída para terminarmos a leitura acreditando ser uma história de amor e não uma narrativa de um relacionamento abusivo.
Por mais que tente, H.H. deixa transparecer em algumas passagens o desejo de Dolores, de não estar naquela situação, além de sua percepção de que ela poderia fugir a qualquer momento, depor contra seu discurso “amoroso”.
Nabokov foi magistral na construção de H.H.