Antes de começar a resenha, uma pergunta: você já leu “O estrangeiro”, de Albert Camus? Se a resposta for negativa, pare de ler esse post e comece logo a leitura. Mas se a resposta for positiva, essa resenha é feita para você! Não há dúvidas de “O estrangeiro” é um dos maiores clássicos do século XX. Nele, Meursault, um franco-argelino, mata um arábe – cujo nome nunca é mencionado – em uma praia, sem grandes motivos.
E é a partir dessa história que Kamel Daoud escreveu sua obra. Mas nela, o autor argelino traz os fatos sob a perspectiva da família desse “árabe” assassinado por Meursault. A história é narrada por Haroun, irmão do árabe sem nome, que passa a vida remoendo esse assassinato imotivado que atingiu a sua família e, principalmente, indignado com o descaso das autoridades e da sociedade sobre o crime. É, sem dúvidas, uma narrativa repleta de rancor, angústia e sofrimento. Mas é também por meio dessa narrativa que Haroun consegue dar um nome a seu irmão, agora Moussa, e de certa forma vingar a sua morte ao contar a sua versão da história.
Confesso que duvidei um pouco do resultado de uma proposta tão díficil, como a assumida pelo autor. Mas terminei a leitura com uma certeza: Daoud conseguiu construir um jogo literário incrível com o clássico de Camus. Sua obra faz o leitor refletir sobre as percepções e ideias que surgiram na leitura de “O estrangeiro”. É como se o leitor tivesse a sensação de que o assassinato de Moussa foi um fato – e um injustiça – verídica. E para completar, a obra tece uma crítica social excelente sobre a colonização dos países africanos. Ou seja, é um livro muito inteligente e que faz o leitor refletir! Recomendo muito!
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“Imagine só, meu irmão poderia ter ficado famoso se o seu autor tivesse ao menos dignado a lhe atribuir um nome, H’med, Kaddour ou Hammou, apenas um nome, ora! Mamãe poderia ter conseguido uma pensão como viúva de mártir, e eu teria um irmão conhecido e reconhecido do qual poderia me vangloriar. Mas, não, ele não lhe deu nenhum, porque, senão, meu irmão criaria um problema de consciência para o assassino: não se mata um homem facilmente quando ele tem um nome”
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