Já nas primeiras páginas pude perceber a complexidade e prolixidade da escrita do autor, mas que não compromete a fluidez da leitura. Gustav von Aschenbach, um escritor decepcionado com a receptividade de suas obras mais recentes, decide “mudar de ares”, deixando a sua cidade Munique em direção à Veneza. Na época, a cidade, quente e fétida, estava sofrendo uma epidemia de cólera. E é nesse cenário que tem início o seu fascínio por Tadzio, um jovem polonês, a personificação da beleza pura. É uma obsessão completamente platônica, que acaba deixando um velho escritor em um profundo conflito interno, sem saber quais passos tomar. A trama é simples e não é o que chama atenção na obra. O talento de Thomas Mann está na construção de um dilema interno muito profundo e, ao mesmo tempo, sútil. Tamanha a complexidade de seus pensamentos, que senti dificuldade de absorver mais da obra, até mesmo pelas diversas referências a filósofos como Platão e Nietzsche, que conheço pouco. Ou seja, não se deixe enganar pelas poucas páginas do livro e pela simplicidade da narrativa: a escrita é profunda, filosófica e excepcional. Um livro para ser relido.
Além de A morte em Veneza, essa edição também contempla Tonio Kröger. Li e gostei ainda mais do que a primeira novela. Kröger é filho de um burguês e uma mãe brasileira (o que denota um cunho autobiográfico, já que a mãe do autor também tinha origem brasileira). É um jovem que difere das crianças com quem convive. Com sua origem brasileira, Kroger foge do padrão caucasiano de pele, cabelos e olhos claros. E é na arte, escrevendo poemas, que protagonista consegue demonstrar a sua beleza. É também uma narrativa envolvendo o conflito interno do ser humano e o conceito de beleza.
Se você gostou, compre o livro clicando no link e ajude a página a se manter: https://amzn.to/2wCQvQZ